domingo, junho 05, 2016

MUHAMMAD ALI ou CASSIUS CLAY...

MUHAMMAD ALI ou CASSIUS CLAY...


Calfilho




                      O boxe nunca foi meu esporte favorito.
                    Na minha infância e adolescência, elegi o futebol como o esporte que gostava de praticar. Quando passei a frequentar o Canto do Rio F.C., aos onze anos de idade, comecei também a praticar tênis de mesa, esporte pelo qual disputei os Jogos Infantís de 1955 pelo clube. Ali também joguei futebol de salão, atividade que começava a ganhar força no Brasil (ainda com bola de serragem) e ensaiei algumas cestas no basquete e outras jogadas de voleibol, esportes que o Canto do Rio oferecia aos seus sócios.
                  A televisão dava seus primeiros passos no Brasil. No Rio, inicialmente, foi a TV-Tupi, do grupo "Associados", cujo presidente era Assis Chateaubriand. Anos depois, já em meados da década de 50, surgiu a TV-Rio, cuja sede era situada no prédio do antigo Cassino Atlântico, no posto 6, da praia de Copacabana (hoje, um hotel de luxo).
                  Claro, naquela época, a televisão era em preto e branco. 
             Na recém inaugurada TV-Rio surgiu um programa dedicado ao boxe, que era transmitido ao vivo, nos finais de noite dos domingos: o TV-Rio Ring.
                Era apresentado por Luiz Mendes, um gaúcho que já tinha alguns anos de locutor esportivo no Rio de Janeiro. E o mestre de cerimônia, aquele que apresentava os boxeadores, era o paulista Léo Batista, então começando carreira no jornalismo esportivo. Os dois usando gravatas borboletas, talvez copiadas do estilo usado pelos anunciadores de boxe norte americano.
                   O programa, grande novidade na televisão carioca, logo atraiu um grande número de espectadores, inclusive eu e meu pai, que ficávamos assistindo o programa até seu final.
               As lutas eram entre pugilistas amadores e, para mim, então com doze ou treze anos, muito empolgantes. 
               Lembro-me perfeitamente bem que nesse programa surgiu Eder Jofre, um jovem pugilista de São Paulo, que dava seus primeiros passos na carreira de pesos galo. Era assessorado por seu pai, o também ex-pugilista Kid Jofre. Eder depois tornou-se profissional e foi campeão mundial dos galos e, mais tarde, da categoria pena.
            Mas, o boxe nunca foi um esporte brasileiro. Aqui, nunca teve campeões de relevo, excluindo-se o já citado Eder Jofre e, em grau menor de importância, Servílio de Oliveira, Miguel de Oliveira, o folclórico Maguila e, mais recentemente, o Acelino "Popó" de Freitas.
          No exterior, principalmente, nos Estados Unidos, o boxe profissional, desde o início do século passado, já era um esporte popular e prestigiado.
               Na década de 50, o campeão mundial dos pesos pesados, a mais importante categoria do boxe, era o Rocky Marciano. Sempre lia notícias sobre suas vitórias e, segundo me parece, foi o único campeão do mundo que permaneceu invicto durante toda sua carreira. Mas, os jornais ainda ecoavam artigos sobre a lenda da década anterior, a de 40, o famoso Joe Louis. Li ainda alguma coisa sobre a história de outros famosos pugilistas como Jack Dempsey, Primo Carnera, Max Schemeling, e, na categoria dos médios, segundo me parece,  "Sugar" Ray Robinson.
            Até que, em 1960, nas Olímpiadas de Roma, surgiu o furacão Cassius Clay. Leembro-me perfeitamente quando ele conquistou a medalha de ouro e a forma irreverente e debochada como comemorou a conquista.
                Daí para a frente, Cassius não saía do noticiário, tanto por suas vitórias rápidas por nocaute como pelo estardalhaço que fazia após suas conquistas.
              Até que em 1964 conquista o título mundial, com apenas 22 anos de idade, ao derrotar Sonny Liston. A forma como provocou o então campeão, homem forte como um touro e de poucas palavras, tanto antes como depois da célebre luta, marcaram época na imprensa especializada.
                Mas, daí em diante foi que Clay realmente transformou-se numa lenda do esporte mundial. Ao recusar-se a ir combater na guerra do Vietnã, foi contestado e aplaudido por muitos. Uns diziam que era covarde, não era patriota, alguns até duvidaram de sua masculinidade pela forma como se apresentava nos ringues, bailando e debochando de seus adversários, dizendo, antes das lutas, o round em que os derrotaria. Outros aplaudiam sua atitude, não vendo razão na ida de jovens americanos para uma guerra que não era deles, num lugar longe de suas casas, tendo a obrigação de matar pessoas que nunca lhes fizeram mal.
             Foi então que Cassius Clay converteu-se ao islamismo e adotou o nome de Muhammad Ali, com o qual tornou-se famoso mundialmente.
              Perdeu seu cinturão de campeão mundial, ficou impedido de lutar por vários anos no auge de sua carreira e quase ficou preso para cumprimento da pena que lhe foi imposta, depois revista. 
            Mas, daí em diante, tornou-se um dos maiores defensores dos direitos dos negros, tanto na América do Norte, como em todo o mundo, um verdadeiro embaixador da paz em todos os países por onde passava. Voltou a lutar em 1972, recuperou o título mundial, perdeu-o outra vez e voltou a recuperá-lo.
          Suas lutas contra Joe Frazier, Floyd Patterson, Sonny Liston, George Foreman e, já no fim de carreira, contra Leo Spinks e Trevor Barbick, hoje fazem parte da antologia da história do boxe mundial. Vi algumas delas pela televisão e, realmente, fiquei fascinado com a figura humana do boxeador, mesmo na sua fase de declínio.
            O mal de Parkinson foi o preço que pagou por ter escolhido uma profissão tão violenta. Apesar de seu rosto parecer não aparentar marcas dos golpes sofridos, sua cabeça deve ter acumulado milhares deles o que lhe causou a terrível doença. Com ela teve que conviver por mais de 30 anos, até morrer dias atrás.
             Muhammad Ali (ou Cassius Clay, nome de seu pai) nasceu no mesmo ano que eu, 1942, sendo um dos grandes nomes de nossa geração. Seu legado para a posteridade transcende, de longe, o tamanho da obra que construiu...

Nenhum comentário: